terça-feira, 3 de abril de 2007

BRASIL, ONDE A BURRICE NO VAREJO É A MESMA NO ATACADO


Se você quer entender o que acontece nas “altas esferas” desse nosso país varonil é só sacar o que rola em sua volta e aplicar no atacado. O problema da sua rua acaba sendo o do seu bairro, e nesta seqüência, da cidade, do Estado e, por fim, do país. O macro é feito de um conglomerado de micros. Eu sei que não é tão simples, mas no geral a aplicação dessa equação funciona. No Brasil tem sido provado todos os dias que o comportamento municipal, estadual e federal não se difere: o descaso, o tráfico de influências, o corporativismo, o empurra-empurra, a transferência de culpa, os compromissos não cumpridos, o faz de conta, o pobre gerenciamento, a priorização de mediocridades, enquanto o mais importante é colocado em segundo plano, enfim, a abundante incompetência, são iguais em todas essas instâncias!

Dois exemplos desse parentesco é a lei do Kassab (quem?) na Cidade de São Paulo, aprovada pelos vereadores, mandando arrancar, entre outras coisas, os letreiros dos estabelecimentos comerciais da maior cidade da América Latina, e uma das cinco maiores do mundo, e o “apagão aéreo” do Governo Federal.

A “lei” do Kassab, além de desempregar milhares de pessoas, transformou os estabelecimentos comerciais paulistanos em locais “secretos” para aqueles que não são clientes costumeiros. Isso porque os proprietários, a gigantesca maioria, simplesmente retiraram suas identificações obedecendo a tal “lei”, e não colocaram nenhuma outra no local porque, segundo muitos com quem eu conversei, têm dúvidas sobre o tamanho da nova placa permitida, entre outros detalhes. Sem falar do triste aspecto de cidade fantasma que essa estupidez provocou. Vocês conseguem imaginar, por exemplo, as Casas Bahia sem o seu baianinho de chapéu de couro? Existiam abusos? Sim. Mas, como a Prefeitura de São Paula é preguiçosa e incompetente para fiscalizar de forma individual, aplicou uma punição coletiva.

Esse senhor Kassab, de quem eu nunca tinha ouvido falar, assumiu o cargo que ocupa, um direito constitucional, porque o ex-prefeito traiu seus eleitores e rasgou a promessa feita de levar o seu mandato até o fim (em seguida o eleitorado traído o elegeu para governador!). A gente sabe que, em um país sem a obrigação da fidelidade partidária, essas dobradinhas de titular e vice são feitas baseadas nos mais promíscuos critérios clientelistas e, como o brasileiro tem o péssimo costume de votar (aliás, eu sou partidário da “lei Pelé”), entre outros detalhes, sem prestar atenção em quem é o vice, uma posição cada vez mais disputada em nosso país tupiniquim, já que aqui dá certo, tem dado no que se tem visto desde os tempos do Tancredo Neves. Em São Paulo, deu Kassab!

E esse cidadão que agora ocupa o cargo, uma garantia constitucional como já foi dito, enquanto se “preocupa” com esses cosméticos draconianos, deixa a nossa querida cidade, entre outras mazelas, ser transformado em um gigantesco lixão, já que TODOS atiram impunemente, desde uma lata vazia de refrigerante até um caminhão de entulho até a boca, em qualquer lugar e a qualquer hora do dia e da noite. E não pensem que esses lixões são formados apenas na periferia abandonada onde eu moro (vide terreno da SABESP que acompanha a tubulação da Adutora Rio Claro, por exemplo).

Cerca de seis ruas abaixo da Avenida Paulista, no sentido centro, têm lixo jogado em quantidade industrial. Ninguém me disse, EU PASSEI LÁ E VÍ há menos de um mês! A vergonha também domina a calçada que segue os muros do Metrô no bairro do Belém. EU TAMBÉM VÍ! No bairro do Cambucí, a podreira é igual, COMO EU TAMBÉM CONSTATEI! E por aí vai. FAÇA A SUA LISTA E MANDE PARA A PREFEITURA! Mas, cadê a prefeitura? Ah, está “preocupada” com a “poluição visual” (justa, se tivesse critério)!! A do lixo que cria todo e qualquer tipo de peste, tudo bem!!

Querem mais? A jogatina se espalha como fogo em palha seca pela cidade. A lei de ocupação de solo é descumprida. Casas são invadidas e transformadas em antros de fora-da-lei enquanto a Prefeitura diz que não pode fazer nada se o proprietário não reclamar. Se esse proprietário estiver morto, e se não existir nenhum reclamante, os moradores circunvizinhos que se danem com a desvalorização de seus imóveis e que aprendam a conviver com a bandidagem. Mas, espera aí, eu esqueci de dizer que os “nobres vereadores” de São Paulo estão ocupados em criar leis para evitar que os donos de barracas nas feiras livres gritem para vender os seus produtos!! SOCORRO!!

Vamos passar agora para o plano Federal. Há seis meses neguinho tem repetido a promessa não cumprida de resolver o “apagão aéreo”. Eu sou do tempo em que foi preciso dois gigantescos incêndios em SP – Andraus e Joelma (este, infelizmente, eu vi ao vivo) -, com centenas de mortos revelados, para que, MUITOS ANOS DEPOIS, a Prefeitura da capital obrigasse os edifícios à terem escadas de incêndio. Mas estamos falando de Brasília. Enquanto o presidente se preocupava em montar o seu Gabinete fisiológico, onde o principal requisito foi o político e não o mérito, criando uma “coisa” que não serve aos brasileiros, mas as mesquinhas ambições desse ajuntamento que no Brasil batizaram de Partidos, o caldo engrossava.

Em Congonhas, SP, o aeroporto com o maior tráfego aéreo do país, um aparelho usado para o pouso e decolagem de aeronaves em dias de neblina foi danificado por um raio e demorou UM MÊS para ser concertado, isso depois de muita gritaria. As empresas aéreas continuaram a vender mais passagens do que as vagas existentes em seus aviões com a desculpa de que era para ocupar suas aeronaves de forma rentável no caso de desistências. Vale dizer que essa crise, que muita já diziam anunciada, “começou” com a queda do Avião da TAM. Sem querer entrar no mérito da culpa, quando um jornalista norte-americano que estava no Legacy que bateu no Boeing da TAM disse que o controle do espaço aéreo brasileiro era uma zona (com outras palavras, claro), caíram de pau no cara. Depois se comprovou que o diagnóstico do gringo estava corretíssimo.

Pois então, seis meses de muita conversa e nenhuma decisão desaguou na paralisação dos controladores militares de vôo no fim da semana passada. Aí a crise ficou mais pesada ainda porque se tratou de uma questão de quebra de disciplina nas Forças Armadas. Vamos punir os caras! Do Aerolula, um dos poucos aviões que decolaram naquele período, indo para os EUA, Luiz Inácio Lula da Silva mandou que se relevasse no castigo e, para evitar um desastre maior, concordou com as exigências dos amotinados. Depois das imagens de desrespeito, histeria, brigas, xingamentos, mostradas pelas TVs brasileiras e de volta ao Brasil, percebida a gravidade do problema, que foi uma quebra da quebra da disciplina militar e os precedentes que isso poderia causar, Lula mudou o discurso, chamou o comandante da Aeronáutica para endossar o seu status de mando e engrossou no discurso com os controladores militares dizendo, entre outras coisas, que eles não podiam fazer greve (chega a ser estranho ouvir isso da boca de um ex-líder sindical!). Resumo da comédia: os “analistas” dizem que a crise é séria, enquanto o feriadão de fim de semana se aproxima.

É isso, apesar de ser muito mais. Não sei se consegui provar a minha “tese” de que os problemas no Brasil são repetições que só mudam de tamanho e local. O que eu quis dizer também é que as “nossas autoridades”, se não têm conseguido resolver nem mesmo os problemas que parecem pequenos, mas que transformam nossas vidas em um inferno, o que dizer de problemas maiores e mais complexos. Seis meses de apagão (aéreo) sem solução mostra isso. Se não lidam com o varejo, piorou no atacado. Por último, parece que o nosso principal problema é o APAGÃO POLÍTICO. Talvez eu tenha culpa nisso, ou não tenha, já que anulo meu voto há duas eleições.

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